O desemprego, a crise econômica e as vulnerabilidades sociais foram escancaradas. Nosso país volta ao passado de fome e tudo isso nos faz vivenciar a frustação de deixarmos de ter esperança. Assim, são muitos os motivos que nos fazem assumir uma postura caridosa como se o ato em si fosse capaz de sanar nossas dores e acalentar nossa consciência. Porém a realidade ainda continua em distopia para brasileiros que defendem o mérito, o sacrifício e o subemprego como forma de garantir a saída para crise instaurada pela velha prática de especulação, balizadas por ideologias fascistas.
Como exemplo, nesse fim de semana, fomos trazidos à reflexão, como se tomássemos um soco na boca do estômago, quando o Padre Júlio Lancellotti denunciou a prefeitura de Florianópolis e outros municípios catarinenses por aporofobia, termo cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina que sintetiza a repulsa em relação a ou preconceito contra os pobres ou a pobreza. Ou, para o bom estudioso de história, é a replicação da velha política higienista vestida de sua humilde intenção de cuidar dos Miseráveis (https://muraldoslivros.com/resumo-do-livro-os-miseraveis/). Segundo a Prefeitura,
[...] a esmola atrapalha, perpetuando a situação do cidadão que utiliza as ruas como moradia ou sobrevivência. O desestímulo à doação de esmolas auxilia na promoção da cidadania, na autonomia do indivíduo e na busca de conscientização da população sobre sua responsabilidade enquanto sociedade, evitando a permanência de pessoas nas ruas. Impedindo, assim, que essas relações se desenvolvam em prol da exploração infantil e do uso drogas. (1)
Assim mais uma vez o Padre Lancelotti diz: Não desanimem, não deixem de lutar! Lutem, tenham coragem, enfrentem os poderes injustos, enfrentem todo tipo de opressão, discriminação e preconceito”. E, é assim, enquanto Lélias que fazemos da Ação Solidariedade uma prática de auxílio emergencial para Mulheres Pilares. Isto é, pessoas que enfrentam situações diversas de vulnerabilidade econômica social e das quais buscamos minimamente atender.
Nosso trabalho teve início em agosto quando nos inscrevemos no edital do SIDCEFET e, através dele, buscamos auxiliar, especificamente, mulheres em vulnerabilidade, pois somos um coletivo feminista consciente da situação adversa imposta a muitas de nós, mulheres. Pois, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), houve aumento do número de mulheres chefes de família e o comunicado 65 investiga suas causas. Contudo, a lógica que se sustenta é a “obrigatoriedade” desse “cuidado” relacionada aos aspectos culturais das questões de gênero (que também perpassam classe e, claro, “raça”).
Outro fator analisado pela pesquisa é o tempo dedicado por homens e mulheres ao trabalho no mercado e aos afazeres domésticos. O estudo mostra que as mulheres de arranjos familiares com cônjuge e filhos gastam mais tempo com trabalho doméstico que aquelas que vivem apenas com os filhos. “Nesse campo dos afazeres domésticos, as transformações ocorrem muito lentamente. Apesar dos avanços no mercado de trabalho, há um núcleo duro de convenções de gênero de difícil transformação”. afirmou. (2)
Logo, ao ter nossa proposta contemplada no edital, reunimos estratégias que nos possibilitassem a realização da primeira investida do Projeto PILAR. Porque PILAR é o desejo de construção de pontes para inserção de mulheres em vulnerabilidade social ao mercado de trabalho por meio de formação e transformação social. A questão, no entanto, que nos assombra é: como ofertar sonhos quando nos roubam a dignidade humana pela fome?!
Assim, adentramos no universo da assistência social pelo olhar de profissionais do CRAS do bairro Antônio Justino e da Secretária de Assistência Social Carol Damasceno. Porque, é nítido para o Coletivo fortalecer as instituições, isto é, realizar parcerias que respeitem a experiência e a vivência do cotidiano para propor a melhor abordagem sem oferecer esperanças vazias, carregadas de achismo.
Concluído o trabalho de campo, objetivamos a compra do gás de cozinha, pois ele se tornou um dos itens mais onerosos e um dos únicos que a assistência ou campanhas não dispõem. Também, delimitamos nossa área de atuação para os bairros Vila Reis, Carijós, Antônio Justino, São Vicente, Aracati e Vista Alegre. Esse recorte foi pensado pela proximidade de outros trabalhos e adesão das comunidades à proposta do Coletivo Lélias.
Portanto, o SIDECEFET, em parceria com o Coletivo Lélias, hoje, atende a 12 famílias através da Campanha SOLIDARIEDADE. Agradecemos a confiança e esperamos que este seja apenas o início do trabalho que será PILAR de transformações significativas e verdadeiras para as mulheres cataguasenses.
Referências
https://dicionario.priberam.org/aporofobia
(1) https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/esmola-atrapalha-diz-prefeitura-de-florianopolis-sobre-campanha-do-padre. Acesso em 29/11/2021.
(2) https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6055. Acesso em: 29/11/2021.
Muito bom! Esperamos o Coletivo no Seminário de hoje, para pensarmos juntos ações que avancem o fortalecimento da auto-organização das comunidades atendidas e sua luta por emancipação.
ResponderExcluirObrigada, Adelson! Aprendemos muito.
ExcluirExcelente texto, Lélias! Só refletindo o momento atual, poderemos definir ações que fortaleçam a luta por melhores condições de vida para todos!
ResponderExcluirSim, Juliana! Nossa luta política precisa ser ampliada. Por mais e mais mulheres nos espaços de tomada de decisão e poder.
ExcluirExcelente reflexão
ResponderExcluirParabéns, que maravilha de projeto, que orgulho de mulheres reconhecendo valores e esforço dessa categoria de mulheres guerreiras, que é a estrutura familiar
ResponderExcluirObrigada pela atenção e apoio,Edilaine!
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