Somos um grupo formado por mulheres que, individualmente e através do coletivo, atuam na Educação. Por isso, nós, Juliana Iennaco, Katalin Geőcze, Laís Rios, Ludmila Cesário e Valéria Dias, desejamos manifestar publicamente nossas considerações sobre os impasses e as pressões quanto ao retorno das aulas presenciais.
Deve-se deixar claro que, para nós, todos os problemas agravados dessa crise pandêmica, que ora vivenciamos no Brasil, relacionam-se à, principalmente, má gestão pública, com destaque para o âmbito federal. Afinal, essa doença ceifou, até o momento, mais de 430 mil vidas em solo nacional!
Nossas considerações estão ancoradas em um recente estudo, de 14/04/2021, publicado em uma das mais conceituadas e prestigiadas revistas científicas – Science – através do qual constata-se que o Brasil fracassou no combate à pandemia de covid-19 devido a uma série de falhas e omissões dos gestores públicos, tendo o governo federal peso maior nessa culpa (responsabilidade).
A brasileira Márcia Castro, cientista e demógrafa da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, juntamente com outros 10 cientistas colaboradores do Brasil e dos Estados Unidos, tentam explicar como um país que possui um sistema de saúde universal e gratuito – o SUS – conseguiu se tornar um dos mais atingidos pela crise. Os cientistas, ainda, reiteram que a conduta do governo do presidente Jair Bolsonaro tem um peso proporcionalmente muito maior no cenário de caos gerado pela Pandemia – uma atuação que ficou marcada não só por omissões, mas por ações irregulares como a ampla divulgação de curas ineficazes.
Outra importante consideração desse trabalho é que o grupo também afirma que o alinhamento político entre governadores e o presidente – que sempre minimizou a pandemia e atacou a adoção de lockdowns – teve um papel importante na implementação ou não das medidas de distanciamento nos Estados. Segundo os cientistas, essa "polarização politizou a pandemia" e prejudicou a adesão às medidas pela população (Castro et al. 2021).
Pode-se ainda citar alguns outros estudos e artigos científicos que denunciam o Presidente Bolsonaro como “negacionista” da Covid-19 e das ciências e uma preocupação com suas políticas já desde o início de seu governo, inclusive de redução de verbas para as Instituições de ensino e de pesquisa (Daniels, 2021; Dall´Alba, 2021; Escobar, 2019; Hallal, 2021).
Após essas considerações, retomemos ao tema principal que é o de OPINAR sobre a volta às aulas presenciais durante a pandemia:
1. Temos um Governador do nosso Estado, Minas Gerais, totalmente alinhado, política e ideologicamente, com o governo Bolsonaro que a todo momento “ameaça” os profissionais de educação e faz parecer que estes encontram-se ociosos e não desejando voltar às suas salas de aula. Infelizmente, há reforço midiático desse discurso, uma vez que geralmente representa os interesses de quem entende a educação como uma mercadoria.
2. É importante esclarecer e destacar bem que as AULAS estão sendo ministradas de maneira REMOTA. As professoras e professores desse pais não se encontram parados. Precisaram, de um momento para o outro, modificar e adaptar suas metodologias de ensino, aprenderam a utilizar o ciberespaço como forma de passar os mais diversos conteúdos de suas disciplinas. O Ensino Remoto Emergencial atua desde a Educação Infantil até o Ensino Superior e a Pós-Graduação no âmbito municipal, estadual, federal e na rede particular de ensino.
3. Ainda, sobre o Governo Zema, não podemos perder a oportunidade de “denunciar” e nos posicionar contrariamente aos projetos SOMAR e MÃOS DADAS, nos juntando então à luta do Sind-UTE-MG, que considera o “Projeto Somar” uma maneira do governo de Minas Gerais entregar todas as escolas estaduais para as Organizações Sociais (OS), destinando a elas parte do orçamento da educação. Já o objetivo do “Projeto Mãos Dadas” é entregar aos municípios as escolas estaduais que ofertam ensino fundamental. Portanto, nós do Coletivo Lélias, demonstramos nossa concordância e apoio ao Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) que destaca que o governo de Minas, ao apresentar os dois projetos, busca se desresponsabilizar da garantia de oferta de toda a Educação Básica na Rede Estadual (Sindutemg, 2021).
4. Os protocolos apresentados para a educação têm sido considerados como insuficientes e difíceis de cumprir em escolas precarizadas (Gallas, 2020; Raquel, 2020). Em um interessante estudo publicado na revista científica The Lancet, Gurdasani et al. (2021) afirmam que, embora as escolas sejam espaços imprescindíveis para a aprendizagem, como também essenciais para a manutenção da saúde mental e o desenvolvimento social, não foi feito o suficiente para torná-las mais seguras para alunos e funcionários em tempos pandêmicos. Os pesquisadores ainda afirmam que reabrir escolas sem antes diminuir o contágio por Covid, leva a uma aceleração da Pandemia.
5. A recomendação dos cientistas que defendem a vida é explícita: na ausência de uma ampla cobertura vacinal, o que é o caso, devido à política de morte do governo federal, o controle da pandemia depende de se seguir os protocolos individuais de segurança combinados a uma rígida restrição da circulação de pessoas. O controle não é o fim da pandemia. Ela acabará somente quando pelo menos 70% da população estiver vacinada (Bemparana, 2021).
6. O retorno às aulas presenciais levaria a um aumento na circulação de pessoas pela cidade, o que possibilitaria ainda mais a propagação do vírus.
7. As aulas presenciais não estão ocorrendo porque as medidas de controle da pandemia não estão sendo devidamente e continuamente tomadas desde seu início, tendo à frente dessa tragédia humanitária, o genocida Bolsonaro que, com o apoio da maioria do Congresso Nacional, não atua efetivamente cumprindo seu papel através da construção e execução de políticas públicas que visem a minimizar os impactos da pandemia em todas as esferas sociais, atendendo a outros interesses que não os da população brasileira. É disso que se trata.
8. Nós do Coletivos Lélias somos terminantemente contra que o Governo Municipal de Cataguases-MG coloque as professoras, os professores, os demais profissionais da educação, os discentes e seus familiares expostos ao contágio e ao evidente risco de morte.
9. Somos a favor do retorno às aulas presenciais após a efetivação da vacinação de pelo menos 70% da população cataguasense e de todos os profissionais da educação, isso inclui todas as pessoas que compõem o quadro de funcionários responsáveis pelas escolas, sua manutenção e sua estrutura.
10. Fazemos coro à voz dos especialistas quando dizem que "a vacinação é a única solução para restaurar a vida à normalidade da maneira mais rápida e segura possível" (Chaturvedi & Chakravarty, 2021).
11. Entende-se que tanto o direito à vida como o direito à educação são bens inalienáveis. No entanto, é evidente o comprometimento das professoras e dos professores desse país, que estão a se reinventar, com recursos próprios, a fim de fornecer o melhor ENSINO REMOTO possível, como também para mitigar quaisquer problemas oriundos desse formato de ensino. Não é justo, portanto, colocar a conta dessa Pandemia em uma categoria de trabalhadoras e trabalhadores que já tem seus direitos a todo tempo sendo vilipendiados por um governo dotado de uma necropolítica ultraneoliberal.
12. Nós, população brasileira, devemos exigir das autoridades do País vacinação ampla para todos. Então, é esse o nosso recado: #VacinaParaTodos!
Urge que sejam feitas campanhas publicitárias de conscientização da população sobre como se proteger do vírus, como interromper sua propagação; que sejamos todos vacinados e entendamos que a pandemia é uma questão de saúde pública e deve ser combatida com seriedade e compromisso com a população!
PS: Ah sim, só mais uma coisa! Já está passando da hora de ampliarmos nossa equipe... aguardem! Teremos novidades por aqui!
REFERÊNCIAS:
Bemparana. Estudo aponta que volta das aulas presenciais causará aumento de casos, internamentos e mortes por Covid-19. Bem Paraná, 7 mai. 2021. Disponível em: https://www.bemparana.com.br/noticia/estudo-aponta-que-volta-das-aulas-presenciais-causara-aumento-de-casos-internamentos-e-mortes-por-covid-19#.YJ_QoqhKjIU. Acesso em: 15/05/2021.
Daniel Gallas. Coronavírus na escola: o que diz a ciência sobre os riscos da volta às aulas? BBC News Brasil, 7 ago. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53681929. Acesso em: 14/05/2021.
Deepa Chaturvedi & U. Chakravarty. Predictive analysis of COVID-19 eradication with vaccination in India, Brazil, and U.S.A. Infection, Genetics and Evolution, n. 92, p. 1 – 8, 2021.
Deepti Gurdasani. School reopening without robust COVID-19 mitigation risks accelerating the pandemic. The Lancet, v. 397, p. 1177 – 1178, 2021.
Herton Escobar. Bolsonaro’s first moves have Brazilian scientists worried Science, n. 6425, v. 363, p. 330, 2020.
Mayra Monteiro de Oliveira et al. Controlling the COVID-19 pandemic in Brazil: a challenge of continental proportions. Nature Medicine, n. 26, p. 1505-1506 (2020).
Márcia C. Castro et al. Spatiotemporal pattern of COVID-19 spread in Brazil. Science, First release: 14 April 202.
Pedro C. Hallal. SOS Brazil: science under attack. The Lancet, v. 397, p. 373 – 374, 2021.
Rafael Dall’Alba et al. COVID-19 in Brazil: far beyond biopolitics. The Lancet, v. 397, p. 579 – 580, 2021.
Sara Granemann. Crise econômica e a Covid-19: rebatimentos na vida (e morte) da classe trabalhadora brasileira. Trabalho, Educação e Saúde, v. 19, p. 1 – 12, 2020.
Sindutemg (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais – Sind-UTE/MG). Privatização das escolas públicas estaduais – Sind-UTE/MG na luta contra o projeto “Somar” do governo do Estado. Sind-UTE/MG, 04 mai. 2021. Disponível em: http://sindutemg.org.br/noticias/privatizacao-das-escolas-publicas-estaduais-sind-utemg-na-luta-contra-o-projeto-somar-do-governo-do-estado/. Acesso em: 14/05/2021.
Martha Raquel. Volta às aulas: protocolos não cumpridos e falta de estrutura preocupam. Brasil de Fato, 08 set. 2020.
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/09/08/volta-as-aulas-protocolos-nao-cumpridos-e-falta-de-estrutura-preocupam. Acesso em: 14/05/2021.
Excelente! Parabéns pelo posicionamento.
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