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"De frente com as Lélias" com Sara Azevedo

Sara Azevedo, candidata a senadora por Minas Gerais, nos concedeu uma entrevista bacana para que nós pudéssemos conhecer um pouco mais sobre suas bandeiras, suas propostas, seu histórico político e de luta e, claro, sobre ela mesma!

Agradecemos muitíssimo à Sara, que respondeu a todas as perguntas (isso mesmo, senhoras e senhores, a própria) e dispôs de tantas arquivos interessantes sobre sua jornada para dividir conosco. <3


Então, vem com a gente nesse "de frente com as Lélias" com Sara Azevedo (500)! Pode entrar, Sara! 




Lélias: Conte-nos um pouco da sua história! Quem é você, quais são suas raízes e suas bases que te trouxeram até aqui?

Sara: Nasci em Nazaré, periferia de Belém do Pará, e lá me formei em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (Uepa). Vim para Belo Horizonte em 2010 para tentar a vida. Primeiramente trabalhava como atendente de telemarketing e estudava para passar no concurso do Estado para ser professora. No mesmo ano consegui a aprovação no concurso.

Entrei para a política ainda na universidade, quando comecei a militar em movimento estudantil. Só de PSOL, tenho 15 anos de filiação. Dentro do partido, eu fui uma das fundadoras dos coletivos Juntos! (de militância estudantil) e Juntas! (feminista). Participei da campanha presidencial de Luciana Genro, em 2014, e da campanha de David Miranda (ex-PSOL-RJ), para a Câmara em 2018.

Já presidi o PSOL-MG de 2015 a 2017 e atualmente sou vice-presidente do diretório. Também sou diretora da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco. Em Minas, também ajudei na fundação da rede Emancipa, projeto de cursos de pré-vestibular para jovens de periferia de Belo Horizonte, Ibirité, Manga, Montes Claros, Pouso Alegre e Uberlândia. Até este ano, eu era coordenadora do Emancipa em MG (deixei o cargo para poder tocar a campanha ao Senado).

Na política institucional, já concorri como candidata a deputada federal (2014), vereadora (2016 e 2020) e vice-governadora (2018).


Lélias: O que da sua história te instigou/instiga a lutar e está inserido nas suas ações e nos seus planos políticos?

Sara: Para mim, a política é um espaço de disputa, onde quem vence é quem tem a melhor estratégia de pressão. Por isso, estou no PSOL, porque é um partido de esquerda e que tem como agenda a defesa dos interesses de pessoas comuns, como eu e a maioria da população brasileira.

Acredito que ter nascido na periferia de uma cidade periférica foi muito importante para que eu tomasse consciência da necessidade de unir a população na luta por condições melhores de vida. Vivemos em um mundo em que o individualismo é muito estimulado e, de certa forma, perdemos um pouco a noção de coletividade.

As pessoas estão mais desacreditadas da ação associativa, por meio de sindicatos ou movimentos identitários. Enquanto isso, os empresários se reúnem em fortes associações patronais como a Febraban, Fiesp, Fecomércio, Fenasaúde e muitas outras.

Por isso, quero ser o símbolo de uma política que representa as pessoas e que reconquiste a confiança delas. Quero expressar as demandas da população e batalhar por projetos e ações que beneficiem as pessoas. Luto por uma política que preze pelo bem-estar e que construa um futuro digno para toda a população.



Lélias: Como a sua formação/experiência/vivência política contribui para as suas ações sociais e políticas? Quais ferramentas você utiliza hoje nessas vivências?

Sara: A militância estudantil me ensinou as estratégias de organização e de luta política. Foi nesse período da minha vida que entendi a importância da reunião e do movimento organizado para alcançar as vitórias que a população precisa. Também tive a oportunidade de ser uma das fundadoras do Juntos! e do Juntas!. Isso para mim não foi pouca coisa, foi pelo meu envolvimento nesse momento histórico do PSOL que me permitiu estar envolvida na política institucional do partido na atualidade e que me apresentou grandes figuras, que hoje são referências políticas para mim, como Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Sâmia Bomfim.

Ter nascido na periferia e ter conseguido chegar à universidade pública também foi um fator determinante para a minha vida política. Entendi a importância da educação para a transformação social. Não à toa, participei também da fundação da Rede Emancipa em Minas Gerais, da qual fui coordenadora aqui no Estado até 2021. Esse projeto social é uma iniciativa vinculada ao Movimento Esquerda Socialista (MES), corrente do PSOL, que oferece cursos de pré-vestibular e idiomas para jovens de periferia em Belo Horizonte, Ibirité, Manga, Montes Claros, Pouso Alegre e Uberlândia.

Nesse projeto não fazemos a formação política propriamente das (os) jovens, mas auxiliamos para que cheguem à universidade pública e que, a partir disso, tenham a oportunidade de expandir seus horizontes (seja profissionalmente, seja politicamente). A promoção da mudança política parte da tomada de consciência da população dos seus direitos e de sua força. Por isso, a importância de permitir que as pessoas tenham acesso à educação.

Creio que ter me tornado professora também me trouxe a capacidade de ouvir as pessoas e de compreendê-las. Isso foi um ganho enorme para minha vida, já que hoje me sinto mais capaz de dialogar, propor soluções e provocar a reflexão nas pessoas. Acredito que essa é uma característica valiosa para quem se propõe a atuar politicamente.



Lélias: O que você já conseguiu realizar de concreto e importante na sua vida política até aqui?

Sara: Para mim, a fundação do Juntos! e do Juntas! é um marco da minha atuação política. Hoje, somos uma das maiores juventudes do PSOL e uma das mais combativas. Está presente em diversos Diretórios Centrais dos Estudantes e que compõe diversas lutas estudantis.

Além disso, como presidente do PSOL-MG contribui para a eleição de nomes como Áurea Carolina, Bella Gonçalves, Iza Lourença e Cida Falabella. Pude contribuir na construção política das campanhas e auxiliando no corpo a corpo, ajudando que seus nomes fossem conhecidos pelas pessoas.

Também estive na articulação do pedido de impeachment protocolado pelo PSOL em 2020 contra Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil. À época, conseguimos mais de um milhão de assinaturas. Em 2017, também fui uma das articuladoras e signatárias da ação popular que impediu o aumento de vagas na Câmara de Vereadores em Belo Horizonte.


Lélias: Quais os seus três principais projetos? Fale um pouco sobre eles.

Sara: Em uma disputa para o Senado é complicado fazer promessas, pois as decisões e o desenvolvimento de projetos não dependem unicamente de uma pessoa. Mas tenho três eixos que considero a base da minha proposta de atuação na Casa:

- Taxação de grandes fortunas: a minha principal pauta certamente é a taxação de grandes fortunas. Pretendo apresentar um projeto de lei sobre o tema ou articular a retomada da tramitação do projeto proposto por Luciana Genro em 2008, que desde 2021 encontra-se engavetado na Mesa Diretora da Câmara.

- Educação: quero batalhar por mais recursos em prol da melhoria das escolas de ensino básico e médio, além de projetos que visem a universalização do acesso às universidades e escolas técnicas públicas. Acredito que a educação é um dos principais caminhos para a emancipação da população e que dará sustentabilidade para o desenvolvimento econômico e social.

- Mulheres e LGBT+: pretendo lutar pela aprovação das cotas femininas para as eleições, propondo uma alternativa ao texto do senador Angelo Coronel (PSD-BA), que na verdade enfraquece o mecanismo eleitoral ao desobrigar os partidos em cumprir as reservas de candidaturas de mulheres. Além disso, acredito na importância de se ter a reserva em cada etapa, desde a formulação das chapas eleitorais até a efetiva representação das mulheres nas casas legislativas. Creio que o percentual estipulado pelo PL que tramitou no Congresso em 2021 é insuficiente. Para as LGBT+, lutarei pela criminalização da LGBTfobia e a inserção, via PEC, de “orientação sexual e identidade gênero”, no artigo 3º da constituição, que diz sobre as discriminações. Além disso, proporei projetos que visem a garantia — por lei — da retificação de documentos por pessoas trans e a garantia do casamento por casais homoafetivos.


Lélias: O que você faz ou já fez em torno deles, para promovê-los?

Sara: A luta por melhores condições de trabalho e ensino estão no meu dia-a-dia. Sou conselheira do SindUTE (Sindicato Unificado dos Trabalhadores da Educação) e participo de diversas articulações de pressão em prol do Ensino Público.

Também componho os movimentos feministas e LGBT+, que sempre estou presente nas manifestações à favor dos direitos dessas comunidades. Além de fundadora do Juntas!, também componho a Frente Ampla LGBT+ de Belo Horizonte desde o início de sua atuação.



Lélias: Estamos observando um desaparelhamento do Estado, um desrespeito e uma desvalorização da educação, das mulheres, da população LGBTQIAP+, uma falta de compromisso com a população marginalizada, além dos vários discursos vazios, preconceituosos e desvirtuados proferidos por principais integrantes do governo federal e estadual. Um cenário caótico. Mas queremos ter esperança no futuro próximo. Como a sua candidatura poderá auxiliar na melhoria de condições de vida para todos? Como poderemos reconstruir nosso país? Quais são as áreas mais urgentes que você acredita que devemos investir em 2023?

Sara: A minha candidatura ajuda na melhoria das condições de vida, porque ao eleger uma representante de grupos minorizados, como eu sou, põe-se em prática uma política de defesa dos interesses da população. Se construímos uma sociedade mais justa para as mulheres, pessoas negras, indígenas e pessoas LGBT+ estamos construindo uma sociedade melhor para toda a população, inclusive homens, pessoas brancas, heterossexuais ou cisgênero. A minha candidatura traz a defesa pela solidariedade e união entre as pessoas. Temos que entender que as pautas de grupos minorizados não são meros identitarismos vazios. São pautas políticas, que afetam diretamente a qualidade de vida de todo mundo. Tais grupos são os mais atingidos pelas políticas neoliberais, que comprometem a qualidade de vida e as condições de trabalho. Se o SUS funciona em sua plenitude no atendimento a pessoas trans, ele também será eficiente no atendimento de pessoas cis, por exemplo.

A reconstrução do país passa pela adoção de políticas sociais de efeito imediato, como o Auxílio Brasil, mas também pelo fortalecimento de políticas de impacto a médio e longo prazos, como a construção de escolas ou a geração de emprego através do investimento público. A revisão da política fiscal que tem sido adotada desde o governo Temer também é importante para que o Estado seja capaz de investir e funcionar de forma satisfatória. Por isso sou a favor da abolição do Teto de Gastos. Além disso, devemos fazer uma reforma tributária que onere menos as pessoas pobres e classe média, dando maior peso de contribuição aos milionários e bilionários do país.

Para 2023, creio que é urgente a derrubada as reformas Trabalhista e Previdenciária, que impulsionaram o desemprego, o subemprego, a informalidade e a miséria. Precisamos construir um país em que haja pleno emprego e que as pessoas consigam ter horizonte de um futuro digno. Atualmente, a população anda aflita, não consegue ter fé no futuro. Sequer têm certeza do emprego no dia de amanhã, quanto mais da garantia de uma aposentadoria justa. Isso não pode continuar dessa forma.

Também acredito que seja importante a retomada dos investimentos em educação e no desenvolvimento tecnológico. O século XXI será (e está sendo) marcado pela luta pela soberania dos Estados. Dessa forma, não podemos nos contentar em ser apenas exportadores de commodities, temos que ter uma economia forte e diversificada, que garanta a empregabilidade e que permita ao país se afirmar frente aos interesses corporativos e especulativos do mercado financeiro e das grandes corporações globais. Somente com educação e desenvolvimento tecnológico poderemos alcançar essa posição.






Coletivo de mulheres feministas de esquerda que busca atuar de forma a ampliar a representatividade política feminina no município de Cataguases, MG.

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